Estudantes do Cotec participam de City Tour em Formosa

Publicado em: 15 de dezembro de 2025
Estudantes do Cotec participam de City Tour em Formosa

A atividade de campo faz parte da formação profissional dos estudantes do curso de Guia de Turismo ofertado pela rede de ensino. Com novos guias no mercado, a tendência é que a atividade de turismo da região se expanda e passe a receber mais visitantes

 

Texto e Fotos: Wéber Félix

 

Sábado, 8 de novembro. O sol dá os seus primeiros sinais, tímido, entre as camadas de nuvens que tentam escondê-lo. Apesar da insistência nebulosa, com anúncio de que o dia será de chuva, o grande astro se impõe entre as brechas do céu. Nas frondosas árvores da praça central de Formosa, os pássaros não se calam e entoam uma alegria comum a eles. A sinfonia cantada é a recepção perfeita para as pessoas que começam a se aglomerar no lugar, à espera de mais um dia completamente diferente da rotina diária. Provavelmente, a partir deste dia, este pequeno grupo olhará para a própria cidade sob uma nova ótica.  

Quatorze estudantes do Colégio Tecnológico de Goiás iniciaram naquela manhã mais uma etapa da formação em Guia de Turismo, curso ofertado pela rede de ensino estadual, ao qual vêm se dedicando há quase dois anos. Os olhos brilhantes e o sorriso fácil denotam o entusiasmo, compartilhado por todos, em poder vivenciar um pouco da prática da profissão que escolheram desempenhar pelos próximos anos. Com bolsas e mochilas preparadas para o dia e com o roteiro em mãos, os estudantes iniciaram o tour pelos principais pontos turísticos e históricos daquela cidade centenária, que guarda inúmeras memórias de gerações que contribuíram para a sua construção, ao longo do tempo.  

A primeira parada foi o casarão que se destaca na paisagem da redondeza, com planta retangular e pé-direito elevado, com suas paredes ornamentadas em cores vibrantes, emoldurando gigantescas janelas de madeira e vitrais coloridos. A edificação do século XIX, outrora residência do casal Waldemiro de Miranda e Clarinda Lôbo, nomes importantes da política local, conserva em sua arquitetura marcas de um tempo vivido, e que, hoje, abriga a sede da Secretaria de Turismo de Formosa. 

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Casarão Waldemiro de Miranda abriga a sede da Secretaria Municipal de Turismo e Cultura de Formosa-GO (Foto: Wéber Félix)

“Transformado em local de convivência e aprendizado, neste casarão, a história não é apenas observada, mas experimentada. Cada sala, cada janela e cada detalhe arquitetônico remetem à época em que Formosa dava seus passos rumo à modernidade, mantendo, contudo, as raízes que a sustentam. Este casarão é um símbolo da resistência cultural e da vitalidade histórica de nossa cidade, testemunha de um passado que dialoga com o presente e inspira para o futuro”, explica o guia e professor Samuel Lucas, condutor do grupo de estudantes nessa visita técnica por Formosa. Com o professor, os formandos em Guia de Turismo aprendem não apenas sobre a história da cidade, mas veem na atuação dele um exemplo de como conduzir os futuros visitantes por aquela localidade, quando deixarem de ser estudantes e passarem, em definitivo, a serem guias habilitados.  

O passeio pela história formosense continuou pela Praça Rui Barbosa, palco de encontros, conversas e diversão daquela população aos fins de semana. O símbolo dos encontros é o Coreto Municipal, que chama a atenção pelo seu formato octogonal, em art déco, que abrigou, desde a sua inauguração em 1942, festas, comemorações, apresentações musicais com bandas e coros, além de ter sido o local escolhido para a instalação do primeiro sistema de rádio da cidade, com quatro alto-falantes a partir dos quais se ouvia canções a pedido e que eram dedicadas aos amores. A historicidade desse espaço foi contada pelo estudante Vinícius Azevedo, responsável por apresentá-lo aos colegas de curso, atividade que seria executada por todos eles no decorrer do dia.  

“Hoje, pude experimentar um pouco do que vi em sala de aula, durante nossa formação técnica e teórica. Para essa apresentação, a pesquisa histórica foi essencial, sem ela não seria possível compreender a importância do monumento e de como ele é parte integrante do turismo local. Para qualquer um, seria apenas uma edificação com arquitetura singular, mas com o estudo e orientação, o público pode conhecer a historicidade que suas paredes presenciaram”, comenta ele. 

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Coreto Municipal, inaugurado em 1942, foi palco de várias festividades da cidade de Formosa-GO (Foto: Wéber Félix)

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Guia e professor, Samuel Lucas, juntamente com o estudante, Vinícius Azevedo, contam sobre a importância do espaço para a cultura da cidade (Foto: Wéber Félix)

Pelas ruas asfaltadas da cidade, onde, antes, terra, pedras, poeira e lama recebiam os passos dos formosenses, o grupo caminhou em busca de mais histórias daquela localidade. A cada metro percorrido, os ouvidos atentos eram inundados com informações sobre os nomes de personalidades que se destacaram ao longo do tempo. A narrativa só foi interrompida quando os estudantes e a equipe de guia pararam em frente à Catedral de Nossa Senhora Imaculada Conceição, inaugurada na década de 1960, após 15 anos de construção. A apresentação do templo sagrado da Igreja Católica, importante instituição na formação dos centros urbanos em Goiás e no Brasil, coube ao estudante José Francisco de Matos, que levou o grupo a uma viagem pela religiosidade local. 

“A religiosidade é um grande atrativo que move multidões ao redor do globo, o que não é diferente aqui em Formosa. Ao ficar responsável por essa etapa da nossa visita técnica, me senti desafiado por não ser uma pessoa religiosa, apesar de já ter frequentado várias festividades na região. Senti um frio na barriga e ainda estou sentindo, mas essa sensação vai passar e tenho certeza de que em breve vencerei esse desafio. Estou aprendendo muito com os tours que estamos fazendo, inclusive, esse aqui na minha cidade. A cada dia me sinto mais preparado para essa nova profissão, que resolvi abraçar aos meus 41 anos de idade”, conta, empolgado, o estudante que se inscreveu no curso por uma simples curiosidade. Já ao fim do curso, ele confessa que, a cada aula, a paixão pela área foi se despertando e, hoje, está completamente apaixonado pela profissão, e já sonha em abrir o próprio negócio para atender aos turistas que buscam Formosa e a região.  

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Catedral de Nossa Senhora Imaculada Conceição foi inaugurada na década de 1960, após 15 anos de construção (Foto: Wéber Félix)

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Estudante José Francisco de Matos (à direita) relembra as etapas de construção do templo religioso católico (Foto: Wéber Félix)

Outro marco do patrimônio cultural e histórico é o Museu Couros, que, além de preservar a arquitetura do início do século XX, guarda em seu interior objetos, utensílios, aparelhos e imagens deixados como rastros daqueles que ali viveram. A Fundação, concebida pelo professor e pesquisador Leônidas da Silva Pires, é a entidade responsável por manter tanto a ala museológica, quanto uma galeria de arte e um teatro. As suas portas e janelas, pintadas em azul royal, ao serem abertas, se tornam um verdadeiro convite para os olhos curiosos de quem passa por ali, encanto que não foi diferente para aquele grupo, mesmo tendo o local já inserido no programa. 

No museu, os estudantes do curso de Guia de Turismo puderam conhecer um pouco mais sobre a formação da cidade e como ela foi se tornando um importante entreposto comercial da província, e posteriormente, do estado de Goiás, conforme é tratado pelo estudante Pedro Bispo. “Ao nos cercarmos pela história da cidade, conseguimos compreender como foi a sua edificação, mas também como se deu a própria organização social, política e cultural do lugar, como pudemos acompanhar nesta etapa da visita técnica, aqui no museu”. Essa etapa de formação é avaliada positivamente pelo estudante: “Esta visita técnica guiada está sendo muito importante para nossa formação, a partir da qual, ao lado de profissionais já capacitados, podemos ver de perto como é o dia a dia da profissão que escolhemos. Esta vivência pode ser sintetizada pela riqueza história e cultural que estamos entrando em contato”, conclui Pedro Bispo, morador de Formosa desde 2004 e que buscou o Cotec para sua formação profissional.  

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Estudante, Pedro Bispo, avalia positivamente as visitas técnicas como atividade de formação do curso de Guia de Turismo do Cotec (Foto: Wéber Félix)

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 Museu Couros guarda marcas da memória cultural e arquitetônica formosense (Foto: Wéber Félix)

As nuvens que antes ameaçavam se transformar em chuva, passaram a se derreter sob os pés dos estudantes, obrigando-os a seguir o caminho através do ônibus escolhido para aquele dia. Acomodados em seus lugares, o veículo iniciou o percurso de quase 32 km, através das rodovias GO-116 e GO-524, para fora da cidade, em direção ao primeiro ponto natural do dia, o Parque Municipal do Itiquira, onde se encontra a maior cachoeira acessível do Brasil, com seus majestosos 168m de queda livre. O passeio em meio à natureza poderia ter sido interrompido, caso a chuva persistisse, porém, a natureza, mais uma vez, se mostrou generosa e guardou suas lágrimas doces para mais tarde, permitindo que o grupo pudesse caminhar pela trilha de pedras de 450m que separa o estacionamento da sua beleza triunfal. A partir daquele momento, a visita seria comandada pelo experiente guia de natureza, Noel José do Santo, que trabalha no recanto há 13 anos. 

O brilho nos olhos do guia se intensificou quando ele narrou ao grupo sua relação com o lugar, iniciada ainda na juventude, quando morou na região e deu seus primeiros passos na profissão ao conduzir diversos grupos pelos pontos turísticos de Goiás e do Distrito Federal. Naquela época não imaginava que sua atuação se tornaria, anos depois, a profissão que lhe traria reconhecimento, prêmios e homenagens. Durante sua passagem pelo exército, enquanto atuava na região de fronteira do Amazonas, ele pôde conhecer sua paixão pelo ecoturismo. Retornando a Goiás, décadas depois, se convenceu de que a natureza já tinha mudado sua vida pelos próximos anos e, ali, no Parque do Itiquira, a brincadeira de criança se tornou a realização de um sonho, ser ponte entre os visitantes e a natureza, através da conscientização e da preservação ambiental. Sua história foi ouvida atentamente por todos, se tornando, certamente, exemplo para o trabalho dos futuros guias de turismo. 

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Parque Municipal do Itiquira atrai milhares de turistas para Formosa-GO, anualmente (Fotos: Wéber Félix)

“É uma alegria tão grande poder contribuir com a formação de novos colegas de profissão, de poder compartilhar minha experiência que fui adquirindo ao longo da minha vida, primeiro em campo, e depois com a formação técnica em mais de 40 cursos realizados. E fico mais contente ainda em ver que são moradores de Formosa que irão contribuir para o fomento e solidificação do turismo na nossa região, ainda carente desse tipo de profissional. O maior ensinamento que posso deixar é que eles despertem o mesmo olhar cuidadoso que tenho para a natureza e que compreendam, por fim, como um guia pode ajudar outras pessoas a se conscientizarem sobre a preservação destes espaços, que mantêm a nossa vida”, explica Noel dos Santos. As palavras ditas pelo guia foram essenciais para que todos ali pudessem criar outra conexão, mais profunda, com o espetáculo que os aguardava logo ali, acima de poucos degraus, muitos deles colocados pelo próprio Noel. O resultado foi um banho energizante que lavou o grupo apenas com a nuvem de água que dançava guiada pelos movimentos do vento que insistiam em bater nas pedras que formavam a queda d’água. 

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Noel dos Santos atua há décadas como guia de turismo na região de Formosa-GO (Foto: Wéber Félix)

De volta a estrada e após um farto almoço, outros três pontos naturais esperavam o grupo para encerrar aquela tarde ainda cinzenta e com alguns poucos raios que atravessam a densidade das nuvens. Poucos quilômetros adiante, à beira da rodovia, um veículo adaptado e com estrutura semelhante a uma locomotiva aguardava a chegada do grupo para mais uma aventura: Usina Parque Bandeirinha, local que abriga as estruturas de duas usinas hidrelétricas que forneceu energia elétrica para os moradores de Formosa por mais de três décadas, sendo substituída pelo serviço vindo de Brasília no final da década de 1960. O local, hoje, tornou-se um ponto de turístico da cidade com várias atrações, além do museu que conta essa parte da história formosense. 

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Usina Parque Bandeirinha, que forneceu energia por mais de três décadas para Formosa, se tornou um parque turístico que mescla história e atividades de eco-turismo (Foto: Wéber Félix) 

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Lagoa Feia, considerada o marco inicial de Formosa-GO, foi um importante entreposto comercial da região durante o período imperial brasileiro (Foto: Wéber Félix)

A exaustão aparente nos rostos de cada estudante não impediu que o roteiro fosse cumprido em sua totalidade, tendo a Lagoa Feia e o Parque Ecológico Mata da Bica como as últimas paradas. Os dois espaços naturais, diferente dos dois primeiros visitados, se localizam dentro da cidade, facilitando a conexão da população à natureza. Com extensão de seis quilômetros de comprimento por 300m de largura, o lago natural foi uma importante via de comunicação e de comércio no planalto central, durante o período colonial, fato que atraiu pessoas para região, dando início ao processo de povoamento. Por outro lado, o parque urbano mantém intacta uma parcela de vegetação remanescente do cerrado goiano, em Formosa. As duas estâncias naturais simbolizam a necessidade da convivência harmoniosa entre o ser humano e a natureza, com potencial altíssimo para se desenvolver uma economia baseada no turismo de aventura e ambiental como é destacado pelo estudante Matheus Santiago. 

“Formosa se destaca por suas diversas atrações naturais. Hoje, na visitação, pudemos ver de perto como a preservação ambiental pode gerar e movimentar a economia local, e para isso é necessário que entendamos que a relação harmoniosa entre o ser humano e a natureza é imprescindível. Passar por esses pontos da cidade através do olhar atento e cuidado dos dois guias, permitiu que enxergássemos essa possibilidade, assim como podemos usar essa experiência como referência para nossa atuação após a conclusão do curso”, afirma Matheus, que é geógrafo e buscou a formação técnica do Cotec para complementar seu campo de conhecimento e, futuramente, poder atuar com uma agência voltada ao turismo de aventura. 

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Estudante, Matheus Santiago, acompanha atento às falas doS guias à frente da visita técnica por Formosa-GO (Foto: Wéber Félix)

Já sob o cair da noite, com os últimos raios amarelados do sol que se despede daquele dia, o grupo esbanja uma alegria imensurável por ter concluído aquela etapa de formação, como pode ser percebido pelas palavras da estudante, Sarah Resende. “Esta etapa em campo, guiada por guias da região, foi essencial para a concretização de nossa formação em Guia de Turismo. Sermos conduzidos por pessoas que possuem um amplo conhecimento nos propiciou uma experiência completa e muito instrutiva sobre como devemos atuar. Esse contato é uma inspiração para sermos melhores profissionais”, comenta ela.  

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Professora de história e estudante do Cotec, Sarah Resende, buscou o curso de Guia de Turismo para ampliar sua rede de trabalho (Foto: Wéber Félix)

O que é complementado por uma das professoras e coordenadora do curso do Cotec de Formosa, Kamilla Calixto. “Este é um projeto integrador, no qual nossos estudantes conseguem vivenciar o que eles vão encontrar em suas carreiras seja em qual frente de atuação, no turismo de natureza, turismo religioso ou no histórico. É uma formação que, além de agregar e enriquecer o currículo de cada um, proporciona caminhos para que possam empreender e viver a partir dessa profissão. Além disso, a profissionalização trará resultados bons resultados para a economia local, projetando a cidade com um dos lugares a ser visitados por turistas de Goiás, do Brasil e de outros países”, declara, ressaltando a importância do curso.  

Com o fim do dia, espera-se que as palavras ditas por Noel em uma de suas falas se tornem realidade para estes estudantes, assim como elas vêm orientando o trabalho do guia. “O maior pagamento ao fim de um percurso guiado é o sorriso que se abre no rosto do visitante como agradecimento, o qual eu distribuo para a natureza como retribuição ao que ela nos forneceu”. 

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Estudantes do curso de Guia de Turismo do Cotec encerram a visita técnica em Formosa-GO no Parque Ecológico Mata da Bica (Foto: Wéber Félix)

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