Cotecs realizaram atendimentos a centenas de agricultores familiares na maior feira do gênero do Centro-Oeste Publicado em: 13 de junho de 2025

Durante os quatro dias da Agro Centro-Oeste Familiar, os visitantes do estande do Cotec receberam orientações sobre manejo de solo e plantio sustentável, além de dicas sobre técnicas para o cultivo e cuidados com plantas
Os Colégios Tecnológicos de Goiás prepararam uma programação especial dedicada à formação técnica para os visitantes da 22ª edição da Agro Centro-Oeste, que ocorreu entre os dias 4 e 7 de junho no Centro de Cultura e Eventos Professor Ricardo Freua Bufáiçal, na Universidade Federal de Goiás. Quatro unidades da rede Cotec levaram orientações, soluções e dicas aos agricultores familiares sobre como aliar produtividade a parâmetros sustentáveis de produção, incluindo o meio ambiente, o baixo custo de investimento e a saúde humana, para mais de 500 pessoas.
Quem passou pela área externa da feira ficou surpreso com a maquete montada no estande do Cotec. Nos quatro dias do evento, o projeto Mandala Agrícola deu boas-vindas aos visitantes que buscavam sanar a curiosidade sobre aquele item, e puderam, ao fim, conhecer mais sobre a ideia criada dentro da unidade de Formosa. A reprodução em pequena escala trata-se de um sistema de consorciamento de várias culturas, e até mesmo da criação de pequenos animais em um único espaço. A relação entre as espécies é uma importante estratégia para se criar um ecossistema autossustentável, como explica uma das professoras do curso Técnico Agropecuário que desenvolveu o projeto.
Equipe de professores e direção do Cotec Carmem Dutra de Araújo, de Formosa (Foto: Wéber Félix)
“A Mandala Agrícola foi construída tendo em vista os conceitos de harmonia e de sustentabilidade. Diferente de outros sistemas, a formação em anéis permite o manejo em espaços pequenos e se mantém sustentável, do início ao fim, principalmente quando se faz o consórcio com animais que contribuem para a renovação de matéria orgânica. Por exemplo, pode-se trabalhar com duas opções, no primeiro podemos colocar no centro da Mandala um poço com peixes que irá produzir resíduos orgânicos que voltam ao solo, ou, ainda uma segunda opção, seria o uso de um galinheiro móvel colocado entre os anéis, permitindo que as galinhas comam o mato que surja e as fezes produzidas voltem para a terra, diretamente, como composto orgânico rico em nutrientes que vão ajudar na adubação”, detalha a professora.
Mandala Agrícola produzida pelos estudantes do curso Técnico em Agropecuário, no terreno do Cotec de Formosa (Foto: Kamila Calixto)
Vera Regina Franciso, 54 anos, agricultora da região do Pantanal, viajou mais de mil quilômetros para vir à feira, e ficou surpresa ao conhecer de perto a proposta de plantio trazida para a Agro Centro-Oeste. Ela decidiu que vai implementar a ideia em seu sítio, em Anastásio, no Mato Grosso do Sul, e, assim, garantir maior produtividade no cultivo de hortaliças e outros produtos. “Eu já havia ouvido falar da Mandala Agrícola, mas é a primeira vez que estou vendo de perto. Eu ouvi atenta cada orientação da professora Kamilla, para eu poder fazê-la em meu sítio. Se eu fizer esse sistema, vou poder agregar em um mesmo espaço várias espécies. Eu quero fazer um tanque de peixes no meio e em volta vou cultivar hortaliças e várias verduras para vender na feira da minha cidade. Essa ideia é uma forma de melhorar meu negócio e desenvolvê-lo de forma sustentável”, conta ela, muito animada, informando que integra o grupo de mulheres do Mato Grosso do Sul que foi contemplado com a reforma agrária.
Vera Regina Franciso trabalha com a venda de hortaliças e verduras há 13 anos, em uma feira de Anastásio - MS, distante 50 km de onde cultiva os produtos (Fotos: Wéber Félix)
Também curioso, ao ver a maquete no estande, o servidor público Ivanisio Gomes parou para admirar e ouvir sobre a proposta. Além de conhecê-la, ele pôde ainda pegar algumas dicas sobre como manusear o solo para diminuir os efeitos danosos para o meio ambiente e reduzir os custos para a produção agrícola. “Dali onde estava, fiquei observando aqui, curioso para entender melhor sobre o projeto. Meu interesse é aprender mais e poder levar para minha terra. Eu tenho umas terrinhas em Monte Alegre de Goiás. Eu fui criado ali, eu gosto muito de cultivar algumas coisinhas, assim vim aqui para ver esse sistema. E fui surpreendido ainda com as dicas do professor sobre os cuidados com o solo, a cobertura vegetal e, como evitar o processo de erosão. Foi uma aula completa. Eu não sabia de tantos detalhes. Pior é que há muitos casos ainda em que as pessoas não aplicam isso no dia a dia", comenta Ivanísio, após receber as orientações do engenheiro florestal e professor do Cotec de Cristalina, Nyllo Herculy Moreira.
“Mostrei para o Ivanísio como é importante a cobertura do solo para impedir o surgimento de erosão e o consequente assoreamento de mananciais e rios. Trouxemos aqui para feira essas três situações, para que todos pudessem ver como o solo pode perder suas características com o tempo e prejudicar não apenas o meio ambiente, mas também a área utilizada para o cultivo de lavouras. A cobertura do solo, seja vegetal, ou o uso de palhada, impede que esses problemas surjam, além de conservar os nutrientes ali presentes e preservar a umidade do solo. Estamos falando de ideias simples que, ao serem implementadas, vão proteger o solo, diminuir a quantidade de água usada em caso de irrigação e, assim, diminuir os custos de produção. É um sistema duplamente sustentável, para o meio ambiente e para o financeiro”, explica Nyllo Herculy.
Equipe do Cotec Genervino Evangelista da Fonseca, de Cristalina, orientou os visitantes sobre o correto manejo do solo (da esquerda para a direita, Ivanisio Gomes e Nyllo Herculy Moreira) (Foto: Wéber Félix)
Outra preocupação trazida pelos Colégios Tecnológicos para a Agro Centro-Oeste Familiar é o uso consciente de métodos mais naturais para o controle de pragas e insetos, e o tratamento assertivo em caso de doenças das plantas cultivadas. Os estudantes de cursos da área agrícola, Aurélio Roice e Fernanda Jhúlia, ao passar pelo estande, endossaram a utilização dessas estratégias como uma forma atenta à conservação do meio ambiente e de menor riscos à saúde humana.
“Fiquei surpreso porque não sabia dessa funcionalidade do coentro para afastar insetos. É uma opção sustentável e saudável, tanto pensando no meio ambiente, quanto na questão de gasto, custos para a produção. É uma ótima opção”, comenta o estudante do terceiro período de Agronomia da UFG. O que é também destacado por Fernanda, integrante da comitiva de estudantes do curso Técnico Agropecuário do IFG de Ceres. “É muito interessante porque ainda tem muita gente que utiliza o recurso do tóxico, o que pode prejudicar a nossa saúde. Então, o que foi apresentado aqui hoje, traz uma nova possibilidade, aliado à sustentabilidade. É incrível que muitos pensam em salvar a planta e não pensam em um recurso de origem natural. Eu mesma estou tentando combater um inseto em casa, usando um produto químico, agora que soube dessa possibilidade, vou levar para minha casa”.
Estudante de agronomia da UFG, Aurélio Roice, recebe dicas de como controlar pragas com o uso de produtos naturais (Foto: Wéber Félix)
Estudantes do curso Técnico Agropecuário do IFG de Ceres visitam o estande do Cotec na Agro Centro-Oeste Familiar (Foto: Wéber Félix)
A solução apresentada pelos professores do Cotec de Goiatuba é um alerta para o uso de agrotóxicos, principalmente por pessoas que não têm conhecimento para manuseá-los de forma correta, o que pode gerar danos ao meio ambiente e à saúde humana. A proposta natural é uma alternativa segura, além de ser sustentável, como argumenta a engenheira agrônoma e professora da unidade, Geovana Almeida.
“Trouxemos uma receita de inseticida natural e algumas amostras para os visitantes. Escolhemos esse projeto pois é de fácil entendimento e aceitação, tanto para o público do agro, quanto para a dona de casa, aposentado, adolescente. Esse inseticida natural é ideal para o controle de pragas em plantas ornamentais, no jardim e na horta. Ao trazer essa proposta, estamos alertando para o perigo do uso dos agrotóxicos por pessoas comuns, devido à sua potencialidade de contaminação, já que normalmente elas não possuem o IPI adequado, não têm o conhecimento sobre residual, período de carência, podendo sofrer alguma alergia e, a longo prazo, até desenvolver doenças mais graves”, explica Geovana.
Professora Geovana Almeida, no centro, explora o potencial fungicida de produtos naturais. A proposta foi desenvolvida pelo Cotec Jerônimo Carlos Prado, de Goiatuba (Foto: Wéber Félix)
O uso indiscriminado de produtos químicos e a falta de conhecimento sobre a fisiologia das plantas também foi abordado pelos professores que vieram da unidade de Goianésia. A equipe, liderada pela professora Priscila Lorrana Alves, no intuito de sensibilizar o público sobre a correlação de doenças e nutrição das plantas, montou a exposição “Plantas doentes e Catálogo de deficiência nutricional em Plantas” para levar informações de como reconhecer, diagnosticar e controlar as doenças nas lavouras de forma adequada, consciente e sustentável.
“Hoje, nós trouxemos material pedagógico, construído pelos alunos, que explora a relação entre o solo, o ambiente e o cultivo de plantas. Neste portifólio nutricional reunimos materiais do cerrado para orientarmos o público como resolver problemas de doenças no campo a partir dos sintomas apresentados pelas plantas, o que indicam explicitamente a falta de determinados nutrientes. Com essa identificação, ao tratarmos a questão nutricional e sua devida correção, com manejo mais orgânico e menos agressivo ao solo, garantimos benefícios para o ambiente em si, controlamos o surgimento de pragas, aumentamos a produtividade e, consequentemente, teremos o aumento do ganho de renda, o que é de extrema importância para os pequenos produtores”, alega a especialista.
Equipe do Cotec Governador Otávio Lage, de Goiánesia, participa da Agro Centro-Oeste, sob a liderança da professora Priscila Lorrana Alves (Fotos: Wéber Félix)
A explicação animou o casal Simone Azevedo e Paulo Henrique Rodrigues, que pretende implementar essas soluções no plantio no sítio onde moram, em Goiânia. “Nós moramos em um sítio e cultivamos pequenas coisas, hortaliças, pomar, e a gente acabou se interessando a vir, hoje, para ver o que está tendo aqui, coisas que podem fomentar melhor o nosso espaço. A abordagem da professora já despertou nossa curiosidade, pedimos acesso ao material didático, vamos dar uma lida e tentar aplicar. Entendemos que é ideal que o cultivo esteja aliado à sustentabilidade. Não tem como pensar em alimentos, em agricultura sem pensar no meio ambiente, temos sempre que pensar na sustentabilidade, no melhor aproveitamento de água, dos recursos naturais que nós temos. Vamos tentar replicar em nosso sítio”, complementa o casal ao defender medidas e métodos mais naturais e conscientes.
Simone Azevedo e Paulo Henrique Rodrigues visitam o estande do Cotec e pretendem implementar o que aprenderam com os profissionais da rede de ensino (Foto: Wéber Félix)
A presença do Colégios Tecnológicos de Goiás na Agro Centro-Oeste Familiar reforça o compromisso da rede de ensino técnico em fornecer ao pequeno produtor orientações e formação de qualidade para que cada um tenha condições de aumentar a produtividade da sua propriedade rural e garantir o aumento de renda, como é reforçado pelo subsecretário do Trabalho e Renda da Secretaria da Retomada, Teófilo Neves, integrante da equipe da pasta que subsidia os Cotecs no estado, através do convênio com a Universidade Federal de Goiás, que é gerido pelo Centro de Ensino, Trabalho e Tecnologia (CETT).
“Atualmente, nós estamos em praticamente em todos os municípios de Goiás através das nossas 17 unidades, que desenvolvem ações de extensão e oferecem uma formação de qualidade, inclusive para os pequenos produtores. Estar na Agro Centro-Oeste é um modo de reforçarmos nosso compromisso com a sociedade goiana e, inclusive, para o público desta feira. Nosso foco é capacitar e qualificar essas pessoas para que seus empreendimentos consigam produzir com qualidade e dar um bom retorno para eles. É um modo de potencializar o que eles podem fazer. Quando nós chegamos até essas pessoas e os potencializamos com qualificação profissional, eles têm condições de abrir novas portas, abrir novos mercados, melhorar o seu produto e aumentar a renda da família”, argumenta o subsecretário.